Restaurante Parreirinha

Em 2000 ou 2001, ocasionalmente eu passava pela General Jardim voltando do meu horário de almoço. Me chamava a atenção um restaurante que exibia um grande peixe na vitrine, que até hoje não sei se era de verdade. Fazia lembrar um tucanaré. Eram poucos segundos para observar o movimento lá dentro, a pouca luz e as sexagenárias figuras trajadas de terno branco (?) e calça preta, se dobrando para atender e servir as mesas. Isto é tudo que lembro deste lugar, além do letreiro quase à minha altura: "Parreirinha".

 

Em 2000 ou 2001, ocasionalmente eu passava pela General Jardim voltando do meu horário de almoço. Me chamava a atenção um restaurante que exibia um grande peixe na vitrine, que até hoje não sei se era de verdade. Fazia lembrar um tucanaré. Eram poucos segundos para observar o movimento lá dentro, a pouca luz e as sexagenárias figuras trajadas de terno branco (?) e calça preta, se dobrando para atender e servir as mesas. Isto é tudo que lembro deste lugar, além do letreiro quase à minha altura: "Parreirinha". 
Nunca cheguei a entrar ali, tampouco pensei em deixar algo registrado. Naquela época eu achava estes lugares apenas interessantes. E também imaginava que fossem eternos. 
Mais de uma década se passaria para que lembrasse do extinto restaurante em um balcão na Roosevelt. Tempo suficiente para eu achar que a casa tinha funcionado na Marquês de Itu - e assim culpar uma loja de materiais artísticos pela substituição. O mais velho da conversa - sem me corrigir o endereço -, confirmaria: "O Parreirinha? Ô! Antiiiiigo...". Algo assim. 
Tempos depois, outro balcão, desta vez num cubículo da Rua Araújo. Na metade que era dos fregueses, um habitué embriagado me dissera que o velho restaurante tinha sido frequentado por Silvio Santos. Não duvidei. Conheço um costureiro que trabalha há décadas na região e que afirma ter visto ocasionalmente o jovem apresentador em seus tempos de rádio. E de fato, algumas peças se encaixam: Cesário Mota Jr, Rádio Nacional, Rua das Palmeiras, etc. 
Verdade ou não, certo é que outro dia vi o Rolando Boldrin mencionando o Parreirinha em seu programa na TV Cultura, ao lado de outras casas tradicionais.
Restaurante Parreirinha, não sei por quanto tempo existiu.
Quem sabe "Sr Brasil"? 
São Paulo, 20/10/2014

Rua General Jardim, 284

Já em 2015, encontrei algumas referências na internet falando sobre este extinto restaurante. A melhor delas encontra-se no livro "Noites Paulistanas", (páginas 65-68), de Helvio Borelli, com um capítulo dedicado especialmente ao lugar.
O Parreirinha encerrou as suas atividades no começo de 2001, "devido à falta de clientes afugentados pela insegurança no centro da cidade". E, infelizmente, este parece ser o destino de muitos outros que ainda sobrevivem. 
Descobri que o primeiro endereço foi na Rua Conselheiro Nébias, entre 1927-1965, sendo depois transferido para a Avenida Ipiranga, ao lado do Cine Marabá, onde ficou até 1978, antes de ir para a Rua General Jardim - tema deste post.
O texto de Helvio Borelli fala de um lugar muito agitado, boêmio, 24 horas, frequentado por muitas personalidades da época - especialmente do meio artístico. A lista é muito grande e assim opto em citar apenas os nomes conhecidos de uma pessoa prestes a completar 36 anos: Inezita Barroso, Adoniran Barbosa e Ataulfo Alves foram frequentadores assíduos. O texto também menciona Ronald Golias, Paulinho da Viola, Ari Barroso, Angela Maria, Martinho da Vila, Jamelão, Lupcínio Rodrigues, entre muitos outros. Mas certamente estes já não eram da época da General Jardim.
Pelo sobrenome dos sócios (Dias Coelho) e pelo famoso cardápio da casa, presumi a origem portuguesa. Muito conhecidas eram as rãs, além dos sofisticados peixes e frutos do mar. Mocotó, dobradinha, rabada, e uma tradicional feijoada que começava ser servida a partir das 22:00 hs das terças e sextas-feiras.
É. Devemos à Helvio Borelli aquele que talvez seja um dos mais completos registros de um precioso lugar que poderia estar aberto até os dias de hoje. Ainda assim, outras histórias foram encontradas.
Da época da Conselheiro Nébias - era na esquina com Avenida São João - Miguel S. G. Chammas, em Memórias Gustativas, fala da "pavesa", uma entrada feita de caldo de carne bem quente com um ovo parcialmente cozido dentro deste próprio caldo. Sem deixar de citar as famosas rãs, lembra de um interessante prato que lá era servido: miolo de boi à milanesa. 
E por fim, do período na Ipiranga, Silvio A. Neves, em São Paulo de Minhas Memórias, confirma a fama dos peixes, frutos do mar e das rãs - expostas na vitrine refrigerada -, que chamavam a atenção de muitos que por ali passavam.

Comentários

  1. Senti-me dignificado com a citação de meu nome e de uma das minhas muitas memórias no site da SPTur www.saopaulominhacidade.com.br
    muito obrigado. Tudo que lá escrevi é a pura verdade.

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    1. Miguel, eu que agradeço. Compartilhar experiências como as suas será sempre uma bela forma de contribuir para a memória da nossa São Paulo. Abraços!

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  2. Meu pai trabalhou como garçom por muitos anos no Parreirinha, cujo os donos eram os gêmeos Miro e Mario, ele trabalhava a noite e tinha muitas fotos com famosos. Eu entrei uma vez lá qdo criança e lembro da vitrine com as rãs. Uma pena qdo fechou!

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    1. Que legal Michele! Pois é, uma pena que o Parreirinha fechou... e faz poucas semanas que São Paulo perdeu uma pequena tradição ali perto: o Chopp Escuro. Sem falar na Casa do Artista, que se mudou para os Jardins. Isso para citar só os recentes. Assim caminha o Centro...

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    2. Oi Boa Tarde meu pai tbm trabalhou como garçom e depois gerente o nome dele era Fernando. Qual o nome do seu pai? Gostaria de saber. Obrigada.

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  3. Lembro me do parreirinha em 1985 quando trabalhava nas imediações com sr Hermínio e Armando!

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  4. Uma lembrança nostálgica do parrerinha, ia sempre com meus pais, para comemorarmos datas importantes em nossa familia, muito triste que fechou!

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  5. Me entristece saber que já não existe o"Parreirinha", lá passei bons momentos.

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  6. Eu fui muitas vezes neste restaurante, até hj tenho uma caneca do Corinthians que eu ganhei não sei se foi do Miro ou do Mário, só sei que lembro até hj o sabor da rã hummmm, e do garçom seu Fernando muito gente boa... Tempo bom...

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  7. Convivi com todos deste lugar maravilhoso.
    Tanto na Conselheiro Nébias,quanto na Avenida Ipiranga.
    Garçons Zé Emídio, mineirinho e tantos outros.
    Feijoada maravilhosa.

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  8. Uma curiosidade: quando o Corinthians ganhou o Campeonato Paulista, em 1977, foi uma das pouquíssimas vezes que o Parreirinha não abriu!

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  9. Eu era garoto, 17 ou 18 anos e ia nadar no Sesc Vila Nova e na volta passava em frente ao Parreirinha e ficava namorando aqueles peixes, que era até comum, pois havia outros restaurantes, próximos ao Mappin que também expunham os peixes na vitrine, mas o Parreirinha tinha algo bucólico que me atraia, mesmo sendo garoto. Passado alguns anos, assistindo o programa do Goulart e vi a reportagem sobre o local...Aí comentei com um amigo que também assistiu.. Então fomos lá, com as respectivas namoradas. O orçamento não permitia muita extravagância, mas o fato de poder ir lá e saborear um rã foi única..e talvez deixaria uma lacuna na minha história.

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